Ansiedade e Ecologia

O primeiro campo, da ansiedade, está ligado às emoções e o segundo campo, da ecologia, ao ambiente. Entretanto, o que temos observado é que há bem mais do que apenas uma interação entre campos diferentes.

É uma interconexão, uma interdependência como se fossem corpos únicos, uma só unidade. Esse conceito é coerente com o conceito de Ecologia Social que observa os sistemas existentes no planeta de uma forma horizontal, sem o domínio de um sistema sobre o outro.

A Ecologia Social, é vista como um campo de saber que não pretende questionar a existência humana ou negar o valor dos avanços científicos e tecnológicos que a Ciência conseguiu alcançar, mas sim contribuir para a elevação dos níveis de qualidade de vida e viabilização de possibilidades reais que venhamos a alcançar, de fato, um desenvolvimento ecologicamente viável, levando em conta uma vivência integral, sem hierarquias, sem dominação de um sistema sobre o outro. 

Uma preocupação apresentada recentemente na Conferência do clima da ONU, COP27, pelo secretário geral da ONU, Antônio Guterres, pergunta o que estamos fazendo pelo mundo e pelo planeta para deixar para as próximas gerações. Antônio Guterres, pediu aos países ricos e em desenvolvimento que combinassem ações de cooperação para ajudar o mundo a reduzir as emissões de carbono, transformar sistemas energéticos e evitar a catástrofe climática.

Entretanto, os estudiosos têm apontado que a ansiedade frente a riscos ambientais é uma realidade que não muda com discurso de repressão. Nenhum dos problemas ecológicos vividos hoje podem ser resolvidos sem uma profunda mudança social. 

Há algum tempo a humanidade tem despertado para caminhar rumo a uma transição ecológica. Porém, os desastres ambientais, já ocorridos ou anunciados, estão seguindo a passos largos o que solicita reflexões e mudanças efetivas e urgentes do ponto de vista pessoal, comunitário e de lideranças públicas e privadas. 

O Prof Pihkala, da Universidade de Helsinki, por exemplo, afirma que  “vários fatores psicológicos e sociais contribuem para as transições de sustentabilidade na vida cotidiana”. Ele afirma ainda que “as transições de sustentabilidade na vida cotidiana são complexas. Nelas estão incluídas questões sobre mudança, motivação e tomada de decisão. Em suma, as pessoas querem uma saída para os sentimentos de culpa e desejam uma experiência de aceitação social”.

Britt Wray, em seu livro Em Generation Dread,  combina o conhecimento científico com a percepção emocional para mostrar como esses sentimentos intensos são uma resposta saudável ao estado conturbado do mundo. Em consonancia com as ideias do Prof Pihkala, Britt Wray considera que o primeiro passo crucial para se tornar uma pessoa engajada com as mudanças de comportamento para preservação do planeta é se conectar com nossas emoções climáticas, vê-las como um sinal de humanidade e aprender a viver com elas. Temos que enfrentar e valorizar a ansiedade frente a riscos climáticos, argumenta Wray, para que possamos vencer as reações profundamente arraigadas e generalizadas de negação e repúdio que levaram a humanidade a esse período alarmante de declínio ecológico.

Um novo termo, um novo conceito surge para se referir a ansiedade frente aos desastres ambientais: eco ansiedade o qual abordaremos em um próximo artigo. 

 

Referências:

- BOOKCHIN, M. citado em: CARVALHO, Vilson Sérgio de. Raízes da Ecologia Social: O Percurso Interdisciplinar de uma Ciência em Construção/ Vilson Sérgio de Carvalho. - Rio de Janeiro: EICOS/IP/UFRJ, 2005. 

- Pihkala, Panu. Emoções e vida cotidiana em relação às transições de sustentabilidade. Disponível em :                https://www.academia.edu/86186669/Climate_anxiety_Conceptual_considerations_and_connections_with_climate_hope_and_action    Acesso em: 06 de dezembro 2022

- BRITT, Wray. Generation Dread: Finding Purpose in an Age of Climate Crisis. 2022. Kindle Edition

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